Não tenho dez anos de Jornalismo, a carreira que escolhi por ideal.
Portanto, vivi muito pouca coisa, em comparação com outros colegas mais
experientes. Mas esse é o momento mais difícil dessa curta trajetória.
Publiquei no site CARNAVALESCO com uma profunda dor na
alma a notícia que o meu amigo Marcos Falcon fora brutalmente
assassinado em seu comitê de campanha, na tarde de segunda-feira, na
Zona Norte do Rio. A notícia que eu jamais queria dar. Estive com Marcos
Falcon pela última vez na sexta-feira, quando o entrevistei para nossa
série com os candidatos a vereador. Nos despedimos pela última vez e vi
no seu olhar a quase certeza de que o domingo seria de vitória.
Conversávamos quase sempre pelo telefone e nesta segunda-feira não foi
diferente. Liguei para saber como andava sua confiança com a votação do
domingo. Dez minutos depois recebi como um raio a informação mais dura
da minha carreira.
Conheci o Marcos Vieira de Souza, o Falcon, em 2013. Naquela oportunidade eu não era ainda repórter do CARNAVALESCO.
Foi na solenidade de lançamento da chapa Portela Verdade para as
eleições que salvariam a azul e branca do calvário de décadas em que ela
se encontrava. Fui integrado à equipe do site poucos meses depois e a
partir dali eu passei a me relacionar com ele de maneira profissional,
afinal, ele tinha assumido a vice-presidência de uma das mais
importantes escolas de samba do Brasil.
Aprendi na faculdade que o repórter precisa manter um distanciamento
pessoal de sua fonte, em prol da qualidade da notícia. Mas a proximidade
que criei com o Falcon é algo que nunca imaginei fosse acontecer em
minha vida profissional. Aquela diferença da teoria para a prática que o
mundo real nos apresenta. No início, confesso, me constrangia um pouco
da minha aproximação de um dirigente do carnaval. Como eu faria para
preservar a matéria-prima do meu trabalho, a informação, sendo tão amigo
dele?
Aos poucos eu vi que isso jamais iria afetar o meu trabalho, pois era
o próprio Falcon quem me deixava muito claro que a credibilidade do CARNAVALESCO
era o que havia nos aproximado e que ele não abriria mão disso. Falcon
passou a ser chamado carinhosamente por mim de 'gestor' a partir do
momento que em uma tacada de mestre levou para a Portela o carnavalesco
Paulo Barros. Comecei a dizer que ele era o gestor do ano no carnaval
naquela oportunidade e ao longo do tempo a palavra gestor acabou
viralizando, para usar os termos da atualidade.
A Portela sempre foi um algo inatingível pra mim. Lembro de minha
primeira vez naquela quadra mágica. Só de entrar ali eu já me sentia
arrepiado. Pois, Marcos Falcon me fazia sentir em casa dentro da
agremiação que um dia era só um sonho de um menino distante. A minha
relação com ele me mostrou um lado bom do dirigente de carnaval. Falcon
era uma espécie de pai para os portelenses, que certamente choram a dor
dessa perda. Falcon me dizia o tempo todo que seu orgulho maior era
devolver à escola sua auto-estima e reconduzir o portelense ao seu
lugar, que era a própria Portela.
Mas chegou o dia que a amizade e a notícia se confrontaram. O desfile
de 2015 ficou muito abaixo das expectativas. Certo de que Falcon sempre
confiou na minha lisura profissional mantive a firmeza e apontei cada
erro, como é o meu dever e o de qualquer jornalista comprometido com seu
trabalho. E o fiz. Cruzei com Falcon no desfile das campeãs receoso da
reação dele. Mas Falcon me disse que admirava meu trabalho exatamente
por isso.
São muitas as passagens que vivi com Marcos Falcon. Além desta citada
do desfile de 2015 me recordo de ter cruzado com ele na quadra após a
inscrição dos sambas para o Carnaval 2016. Ali naquele momento ele
cantou o verso que marcou o desfile deste ano da Portela. 'Abre a janela
pro mundo que Paulo criou', cantou ele com os braços abertos. Na
véspera da apuração, ele tinha convicção do título e passou aquela
madrugada comigo e com Alberto João, editor-chefe do CARNAVALESCO, trocando áudios pois não conseguira dormir.
Falcon não pode dar o sonhado campeonato à sua Portela. Não posso
deixar de abraçar de maneira simbólica cada portelense, o também amigo
Luis Carlos Magalhães, os passistas nas figuras de Nilce Fran e Valci
Pelé, o departamento de marketing, xodó de Falcon, comandado por Paulo
Renato Vaz e Vinícius Ximenes. A Tabajara do Samba e o trabalho de
excelência de Nilo Sérgio, o casal Alex Marcelino e Danielle Nascimento.
Tia Surica, a quem ele chamava carinhosamente de mãe, e Monarco,
presidente de honra da Portela.
O jornalista está acostumado ao uso das palavras. Mas, ironia do
destino, elas faltam neste momento de dor e consternação. Ficam na
memória os grandes momentos que pude compartilhar com Falcon e a
promessa a ele à toda a família portelense que no exercício diário do
jornalismo seguirei respeitando a Portela daquela mesma forma que fez o
dirigente se tornar amigo do jovem jornalista. Um abraço meu amigo.
FONTE: CARNAVALESCO
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