A criminosa prática de comercialização de CDs ilegais é mais do que
conhecida, não só no Rio de Janeiro, mas em todo o Brasil. E o carnaval,
manifestação cultural que atrai milhares de turistas todo ano para a
cidade, não fica fora disso. Pouco mais de uma semana após a etapa de
finalização do CD do Grupo Especial do Carnaval 2017, os boxes do
Camelódromo, localizado no Centro do Rio de Janeiro, já comercializam
uma suposta versão do CD oficial, que ainda nem está em mãos da Liesa, e
só será lançada no dia 1 de dezembro, na Cidade do Samba. O CD traz na
capa o abre-alas da Mangueira, campeã de 2016, e a ordem das faixas é
totalmente genérica. Agora, o mais importante é que os sambas tocados
são meras versões das obras concorrentes, ou seja, estão com a voz do
intérprete que defendeu durante a disputa. Não há uma trilha sequer na
voz oficial dos intérpretes de cada agremiação, mesmo que algumas já
tenham feitas suas gravações particulares.
No time dos compositores, todos abominam tal prática
O Site CARNAVALESCO ouviu alguns dos compositores
vencedores dos sambas de 2017. O compositor Marcelo Motta, heptacampeão
no Salgueiro, afirmou não concordar com a comercialização do disco de
maneira irregular.
– É claro que isso prejudica demais uma série de pessoas, incluindo
nós, compositores. Confesso não saber o que pode ser feito, porque mesmo
depois de todo esse tempo que o CD produzido, ainda continua existindo a
pirataria, não me vem nenhuma solução. Hoje em dia é muito fácil alguém
fazer cópia, basta pegar na internet. A grande maioria das pessoas
ainda compra esse CD porque não acompanha de perto a disputa. Com o
lançamento na voz dos sambas concorrentes muitos acabam acreditando
justamente pelo fato de não conhecer. Apesar de tudo, acho isso ainda
menos grave do que a falsificação do disco original, esse ainda é ainda
pior – diz.
Marcelo ainda acrescenta que nos últimos anos, a produção do CD
conseguiu fazer com que os ‘vazamentos’ não acontecessem, gerando um
suspense ainda maior para a versão final.
–
De uns três anos pra cá, a produção está muito mais fechada. Eles
conseguiram dar uma boa estancada nos vazamentos que aconteciam. As
cópias falsificadas demoram um pouco mais para aparecerem justamente
pela seriedade da gravação.
Bicampeão na Portela, Samir Trindade afirma que a gravação e
comercialização do CD dessa forma prejudica não só os compositores, mas
todo o mercado fonográfico.
– É uma prática muito difícil de ser combatida, a pirataria já está
ai tem bastante tempo. Atinge, e muito, o mercado fonográfico. O que
pode combater isso é o conhecimento da população que gosta de samba. Os
vendedores comercializam como se fosse o oficial, e muitas pessoas sem
conhecimento acabam comprando como oficial. Muitos compram por ter o
costume e tradição te possuir o disco, mas não procuram saber a fundo, e
não sabem que é uma versão pirata. Nos prejudica demais, atinge as
escolas, compositores e a indústria de maneira geral. Hoje, ninguém vive
mais de venda de CD, e sim com show, se formos esperar venda, ninguém
consegue viver devido a esse grande mal.
Atual campeão na Estação Primeira de Mangueira, Igor Leal critica a atitude dos vendedores.
– Nós já ganhamos tão pouco com a venda dos discos, com a pirataria
piora ainda mais a situação. Ainda mais quando eles pirateiam algo, que
nem sequer vai pra avenida. Acho que todas escolas fizeram alterações
seja melódica ou em letra para que se adeque melhor a escola. Isso acaba
prejudicando demais o nosso trabalho, e o que a escola pretende levar
pra avenida. Se algum mangueirense quiser ouvir samba da escola como foi
na versão concorrente, é só me pedir que vou dar com maior prazer, não
precisa comprar. Para combater essa prática eu acredito que a imprensa é
primordial. Parabenizo o Site CARNAVALESCO pela atitude – frisou Igor Leal.
Público consumidor fica dividido
As
opiniões dos que frequentam a Uruguaiana se dividem. De um lado, o
comerciante André Fagundes, de 41 anos, afirmou que compraria o CD
pirata sem problema.
– Sou portelense, mas devido ao trabalho ainda não tive como tirar um
tempo pra parar e ouvir o samba da minha escola. Vou confessar que
compraria sim o CD pirata, muitas vezes o preço do original custa mais
caro, e precisamos economizar.
Porém, há também quem não concorde com essa prática, como é o caso do vendedor Antônio Jorge.
– Eu espero o CD Oficial sair, gosto muito de samba-enredo e prefiro
esperar por causa da qualidade. Não concordo com esse tipo de prática,
sei o quanto prejudica a quem fez o samba e também a escola. Sou
torcedor da Grande Rio, apesar de não desfilar toda a minha família
desfila.
FONTE: CARNAVALESCO
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